A Feira Agroecológica da Agricultura Familiar apoiada pela Associação Cristã de Base (ACB) é um espaço histórico e importante de comercialização da produção agrícola de base familiar da Região do Cariri cearense!
A Feira funciona todas as sextas-feiras pela manhã - a partir das 5h00 - na Rua dos Cariris em Crato-CE, nela são comercializadas hortaliças, raízes, frutas e frutos e muitos outros produtos da Agricultura Familiar, especialmente da cultura alimentar da nossa Região.
Relato da pesquisa no cotidiano
22 de março de 2024
Lívia Leandro
Graduanda em Jornalismo pela UFCA
Bolsista do Uné vinculada à Procult/UFCA
Na sexta-feira, dia 22 de março, pude acompanhar mais de perto como funciona a Feira da Agricultura Familiar na Rua dos Cariris, no Crato. Desde pelo menos 5 horas da manhã, 3 barracas estão montadas na rua e estavam presentes 4 feirantes ( 1 mulher e 3 homens): Maria Nilva, Antônio Brás, Damião e José Jessé.
Antônio e Maria Nilva, casados, moram no Sítio Monte Alegre e viajam até o centro da cidade de moto, trazendo os produtos assim. Hoje, pontualmente, trouxeram feijão verde, macaxeira, bolinho e café. Explicam que a terra é boa, mas pela falta de investimento, não tem como fazer um sistema de irrigação para poder produzir o ano inteiro. Eles afirmam “quando tem o produto, a gente traz! Quando tem milho, trazemos o milho, a pamonha e a canjica; também trazemos acerola e goiaba; a banana está difícil, mas quando tem, a gente traz!”. Ou seja, há um dinamismo na feira, traz o que tem no dia.
Recentemente o plantio deles foi feito e, segundo seu Antônio, “já está bem acentuado”. Enquanto eles falam, ao fundo alguém pergunta “qual o valor do feijão verde?”. Era uma cliente. Dona Nilva responde “é R$3,00, vamos levar um?”. A cliente retruca “é o quilo ou meio quilo?”. E dona Nilva termina “é esse pacotinho aí”. Então, a cliente diz que não quer e sai devagar. Seu Antônio me fala que sempre precisa justificar ao cliente porque o seu produto, algumas vezes, sai num valor um pouco mais caro do que em outras feiras que não as da Agricultura Familiar. Ele conta “esses dias uma mulher ficou com raiva porque me perguntou o valor do feijão e eu disse que era R$3,00. Ela disse que no mercado era mais barato, saía por R$2,00 e quando estava na promoção ficava por R$1,50 o pacote. Então falei pra ela que esse é o nosso preço, que tudo aqui vem direto da roça e não trabalhamos com produtos “duvidosos”, que é tudo natural, sem veneno”.
Seu Antônio trabalha na roça com uma biroba e um burro. Arada a terra, limpa e planta. Tem toda a tralha: o arado e a capinadeira. Duas vezes já conseguiu o trator pela Ematerce de graça, mas é um processo demorado. Segundo ele e Dona Nilva, com o arado natural a terra fica mais fofinha e o legume nasce melhor.
Damião é filho de Dona Isabel, que está afastada da Feira por problemas de saúde, mora na zona rural de Caririaçu. Hoje, ele trouxe melancia e jerimum, mas sempre traz ovos caipiras. Assim como os outros, Damião também está presente na Encosta do Seminário toda quarta-feira, a partir das 14h, substituindo sua mãe.
José Jessi, mais tímido, mora no Lameiro, é o mais antigo na feira e participa desde 2004. Hoje ele trouxe malva, papaconha e colorau. Costuma trazer outros alimentos também, como salsinha, andu, maxixe, entre outros. Como se sentisse saudade de quando a feira começou ele narra “essa rua aqui, no início era cheia, com muitas barracas, aí foram se afastando, alguns por problemas de saúde mesmo e os filhos e netos não querem dar continuidade”. Depois, com olhar meio vago ele termina “se acabar essa feirinha aqui, não quero ir pra outra mais não”.